28.6.07

AOS PAIS DO "CRIMINOSO"

O texto abaixo não é de autoria minha. É do Aydanno André Mota, jornalista do jornal O Globo, em seu blog. Achei simplesmente, sensacional!

Tomei a lberdade de reproduzi-lo aqui para levá-lo ao conhecimento de todos os meus leitores. Com esse texto, ele conseguiu dizer tudo o que eu estava pensando a respeito e não escrevi para não me tornar repetitivo sobre esse assunto aqui nO Roquenrou. Para quem não sabe do que estou falando, olha o post passado...

A um pai equivocado

Ludovico,

permita-me o tratamento, visto nossa pouca diferença de idade. Somos da mesma geração. Nossas semelhanças, tenha certeza, param aí. Você deu a entrevista da semana - e isso, no país dos políticos mais criativos do mundo, como a ministra que manda "morador" de saguão de aeroporto relaxar e gozar, por exemplo - para tentar defender a barbaridade que seu filho fez. Presenteou o Brasil com um par de pérolas. A primeira, mais pitoresca, refere-se a uma certa "peculiaridade" feminina:

- Sirlei é mais frágil por ser mulher, fica roxa com apenas uma encostada.

Não sei - e, sinceramente, nem quero saber - que mulheres são essas com quem você se relaciona. Melhor, então, tratarmos da segunda declaração, a mais estarrecedora, sobre seu filho e os parceiros dele:

- Eles não são bandidos. Prender, botar preso, juntar eles com outros bandidos... Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses? Existem crimes piores.

São bandidos sim, Ludovico. A menos que não tenham sido eles os autores da barbaridade de espancar um ser humano indefeso, de graça, de brincadeira, para passar o tempo e espantar o tédio. Se o seu filho - Rubens Arruda, 19 anos, estudante de Direito, três refeições por dia há várias gerações - participou da selvageria, é bandido, sim. E lugar de bandido é na cadeia.

Você bem podia seguir o exemplo de centenas de pais e mães pobres, que entregam filhos à polícia por crimes menores e maiores do que o de Rubens. O interminável noticiário policial carioca está pontilhado de exemplos. É gente que estudou muito menos do que você, teve muito menos acesso à informação do que seu pimpolho - mas mostra muito mais cidadania. Nem se compara.

Aliás, muitos integrantes da mesma classe social que cerca você e seu filho de carinho e bem-estar costumam culpar pobres como Sirlei pelos problemas do Rio e do mundo. Alguns até mandam para cá fotos antigas de encostas da cidade, antes do crescimento das favelas, com legendas naquele tom "veja só, que paraíso". Vivem confortáveis no paradoxo de querer pobres por perto, para usá-los como mão-de-obra barata - mas odeiam o que suas comunidades viram, bunkers de bandidos armados até os dentes. E se deixam dominar pelo preconceito, pelo ódio que só vai gerar mais violência. Mas talvez você seja uma exceção, que não pense assim. Tomara.

Para terminar, Ludovico, não se angustie, porque seu aborrecimento está por pouco. Você e seu filho receberam a bênção de nascer nessa terra morena e leniente com sua elite. Em alguns dias, poucos, Rubens estará à solta novamente - certamente bem antes de os ferimentos de Sirlei cicatrizarem, mas aí, problema dela, né? A empregada que vá se tratar lá em Imbariê!

Como seu filho nasceu na classe certa, toda essa história vai virar apenas um constrangimento a ser evitado nas rodas sociais. Bobagem. Você ainda poderá fazer cara de aborrecido quando algum incauto lembrar do caso. Sorte sua e de Rubens, vocês são do Brasil.

Sem mais,

Aydano.


Parabéns, Aydano!

Ao som de Unchain My Heart, com Joe Cocker.

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