9.8.07

TIBURCIO E UMA CORRIQUEIRA TARDE DE SOL NO INVERNO DO RIO

Tiburcio saía tranquilamente do supermercado. Já sentia o cheiro da carne que prepararia e não via a hora de saborear aquela carne temperada no molho Barbecue.

A uma esquina de sua casa, um carro entrou na contra-mão e um cara gritou:

- É contra-mão! É contra-mão! Ô, maluco!

Ele riu com a situação inusitada e ia atravessar quando: PÁ-PÁ-PÁ-PÁ-PÁ-PÁ! Seis estampidos secos, seuqenciais e altos. Eram tiros? Pareciam. Até porque em fração de segundos tudo se movimentou como se fôsse.

Gente correndo, se jogando no chão... Um sujeito correu desesperado pulando carros e correndo contra o trânsito e entrou, pelo meio da rua, naquele mesmo lugar onde o maluco acelerou pela contra-mão. Uma moto acelerou e cortou os carros. As pessoas continuavam se jogando no chão.

Parecia milagre, mas na tal rua da contra-mão, passando em frente ao cara que corria desesperado surgia um carro de polícia, lenta e calmamente. O povo parou ele e, calmamente, os dois guardinhas desceram sacando suas pistolas e andando em direção ao carro que fora baleado (sim, foram tiros! E seis!) e estava na outra esquina.

Os relatos tomavam conta:

- Foi assalto!
- Foi homicídio encomendado!
- Guerra de traficantes!
- Os caras da moto queriam alguma coisa que ele não deu!
- Tinha uma criança no banco de trás!
- Ainda bem que ele não tava no carro!
- ...

Eram várias versões, mas a real é que na moto (aquela que cruzou os carros) vinham dois sujeitos. Um desceu e tentou pegar um carro na mão grande e outro ficou esperando. Em segundos, rolou o stress e o da moto atirou. O outro, saiu correndo feito louco pra não ser pego. Ah! Ele era o que passou na frente do carro da polícia.

Até agora Tiburcio não sabe o que aconteceu realmente. Só sabe que o cara atirou e tem seis furos no carro, um Palio Weekend prata. Tentativa de assalto? Dívida? Crime encomendado? Tinha criança realmente?

Ninguém sabia dar as respostas corretas. Tiburcio bem que tentou, mas as versões não batiam.

Flashback rápido - O que passou na cabeça de Tiburcio no momento?

"Hummmmm... Vou chegar em casa, temperar a carne, passar o molho Barbecue pra grelhar e... Eita! Esse maluco entrou na contra-mão. Depois vem um e bate..." *PÁ-PÁ-PÁ-PÁ-PÁ-PÁ* "Puta que pariu! De onde vem? Fudeu! Se eu andar a bala perdida me acha! Caralho! Já chegando em casa! Que porra...? Esse negão correndo desesperado, o carro vai pegar... Cuidado, cara! Depois vão dizer que é culpado, só porque é preto, mesmo estando bem vestido. A sociedade é muito racista e preconceituosa. Onde me escondo? E se eu for atingido? Meu Deus! Não posso morrer! Vou me esconder! Caralho! Eu já tô no chão desse bar com essas 20 pessoas que nunca vi! Ai! Minhas compras! Ah! A polícia! Ei! É pra lá! Que calma... Porra! Se eles não tão preocupados, não sou eu que vou me preocupar... Vou comer minha carne... Mas a perna não para de tremer... Ufa! Pensei que ia me mijar... Ih! O carro tá todo furado! O que aconteceu realmente? Ninguém fala nada direito! E não deu nem pra eu pegar o celular... Nessas horas eu nunca tô cominha câmera na mão... Ainda bem que o tempo melhorou. O que tá passando na Sessão da Tarde hoje? Hummmm... Vou chegar em casa, temperar a carne..."

E ele seguiu pra casa cantarolando Rio 40 graus.

3 comentários:

Anônimo disse...

HAhaha Muito bom esse texto. O pior é que a realidade está aí. Saímos de nossas próprias casas, e damos de cara com a "guerra urbana".

Coitado do Tiburcio, só queria voltar logo e fazer a carne. hahaha

Bjs

Unknown disse...

É ainda dizem que depois de morrer é que alguns vão para o inferno...

O inferno é aqui mesmo!

Caos!

Anônimo disse...

Essa é a triste realidade, saimos de casa sem a certeza que vamos voltar...

Lamentável essa situação.