17.1.04

POR QUE TODOS OS TEXTOS QUE CIRCULAM NA INTERNET SÃO DO LUIS FERNANDO VERÍSSIMO?

Outro dia estava me questionando sobre isso e conversando com um amigo.

Até que são textos bem legais e muito engraçados, mas se rolasse uma $$ pra cada texto enviado, o Veríssimo estaria riquíssimo, não que ele não seja, e alguém sem receber seus lucros. Sério!

Ou alguém que escreve é muito tímido e não quer receber os créditos e não assina e um malandrão, para divulgar melhor a msg, diz que é do LFV OU
é muito burro e assina como o próprio LVF não divulgando assim o seu nome e seu talento, preferindo dar crédito a alguém já reconhecido...

Ainda existe uma hipótese surreal: a do próprio LFV escrever os textos surreais e todo mundo achar que não são dele e ele se aproveitar da situação... NÃÃÃÃÃÃÃÃO! Muita viagem!

Bom, por que estou falando isso?

Acho que, pelo menos uma vez por semana, recebo um texto via e-mail dizendo ser do LVF. Alguns São realmente dele, outros repetidos e, com certeza, não são dele. O importante é que ee deve ser o autor preferido dos internautas e mais popular depois das Comédias da Vida Privada terem ficado populares e filmadas para TV.

Hoje mesmo recebi um texto até interessante e engraçadinho que diziam ser dele, mas a linguagem mais voltada pro coloquial modernoso e o uso de alguns palavrões indicam ser de alguém anônimo se passando por ele...

Anônimo! Apareça!

Aí vai o texto:

TIPO ASSIM...
Luis Fernando Veríssimo


Tô ficando velho! Um dia desses, às 2 da manhã, peguei o carro e fui buscar minha filha adolescente na saída do show do Charlie Brown Jr.

Ela e as amigas estavam eufóricas e eu ali, meio dormindo, meio de pijama, tentei entrar na conversa.

"E aí, o show foi legal?". A resposta veio de uma mais exaltada do banco de trás: "Cara! Tipo assim, foda!". E outra emendou:"Tipo foda mesmo!" Fiquei tipo assim calado o resto do percurso, cumprindo minha função de motorista.

Tô precisando conversar um pouco mais com minha filha, senão daqui a pouco vamos precisar de tradução simultânea.

Pra piorar ainda mais, inventaram o ICQ, essa praga da Internet onde elas ficam horas e horas escrevendo abobrinhas umas pras outras, em código secreto.Tipo assim "kct! vc tmb nunk tah trank, kra. Eh d+, sl. T+ Bjoks.Jubys".

Em português: "Cacete! Você tam bém nunca está tranqüila, cara. É demais, sei lá. Até mais, beijocas. Jubys". Jubys, que deve ser pronunciado "diúbis", é isso mesmo que você está imaginando, a assinatura.

Só que o nome de batismo é Júlia, um nome bonito, cujo significado é "cheia de juventude", que eu e minha mulher escolhemos, sentados na varanda, olhandoa lua... Pois Jubys é hoje essa personagem de cabelo cor de abóbora, cheia de furos na orelha que quer encher o corpo de piercings e tatuagens. Tô ficando velho!

Outro dia tentei explicar pro mesmo bando de adolescentes o que era uma máquina de escrever. Nunca viram uma. A melhor definição que consegui foi "é tipo assim um computador que vai imprimindo enquanto você digita".

Acho que não entenderam nada. Eu sou do tempo do mimeógrafo. Pra quem não sabe, é uma máquina que você
coloca álcool e dá manivela pra imprimir o que está na folha matriz. Por sua vez, essa matriz precisa ser datilografada (ver "datilografia" no dicionário) na tal máquina de escrever, sem a fita (o que faz com que você só descubra os erros depois do trabalho feito), com o papel carbono invertido...

Enfim, procure na Internet que deve haver algum site sobre mimeógrafo, papel carbono, essas coisas. Se eu ficar explicando cada vocábulo descontinuado, não vou conseguir acompanhar meu próprio raciocínio.

Voltando às garotas, a cultura cinematográfica delas varia entre a "obra" de Brad Pitt e a de Leonardo de Caprio.

Há anos tento convencê-las a ver "Cantando na Chuva", mas sempre fica para depois. Um dia, cheguei entusiasmado em casa com a fita de um filme francês que marcou minha infância: "A guerra dos botões". Juntei toda a família para a exibição solene e a coisa não durou nem 5 minutos.

O guri foi jogar bola, Jubys inventou "um trabalho de história sobre a civilização greco-romana que tem que entregar tipo assim até amanhã senão perde po nto" e até minha mulher, de quem eu esperava um mínimo de solidariedade, se lembrou que tinha um compromisso com hora marcada e se mandou. Fiquei ali, assistindo sozinho e lembrando do tempo em que eu trocava gibi na porta do Capitólio.

Uma amiga me contou que o filho de 10 anos ficou espantado quando viu um telefone de discar. Sabe telefone de discar? É tipo assim um aparelho sem teclas, geralmente preto, com um disco no meio, todo furado, onde
cada furo corresponde a um algarismo. Você enfia o dedo indicador no buraco correspondente ao número que precisa registrar, gira o negócio até uma meia lua de metal e solta a roleta, que lá por dentro está presa a uma mola e faz ela voltar à sua posição inicial. Esse aparelho serve para conversar com outra pessoa como qualquer telefone comum, desde que esteja, é claro, conectado na parede.

Eu sou do tempo em que vidro de carro fechava com maçaneta. E o Fusca tinha estribo e quebra vento. Não espalha, mas eu andei de Simca Chambord, de DKW, Gordini, Aero Willis e até de Romiseta. Não dá pra explicar aqui o que era uma Romiseta, só vou dizer que era tipo assim um veículo automotivo, com 3 rodas, que a gente entrava pela frente e a direção era grudada na porta. Procure na Internet, deve haver um site.

Tá bom, tá bom, confesso mais. Usei Camisa Volta ao Mundo, casaquinho de Banlon, assisti à Jovem Guarda, o Direito de Nascer... mas é mentira essa história de que meu primeiro disco gravado foi em 78 rotações.

Há pouco tempo, João, meu filho de 8 anos, pegou um LP e ficou fascinado. Botei pra tocar e mostrei a agulha rodando dentro do sulco do vinil. Expliquei que aquele atrito gerava o som que estávamos escutando... mas aí ele já estava jogando o Pokemon Stadium no Game Boy. Não é que ele seja desinteressado, eu é que fiquei patinando nos detalhes. Ele até que é bastante curioso e adora ouvir as "histórias do tempo em que eu era criança".

Quando contei que a TV, naquela época, era toda em preto e branco ele "viajou" na idéia de que o mundo todo era em preto e branco e só de uns tempos para cá é que as coisas começaram a ganhar cores.

Acho que de certa forma ele tem razão. Tipo assim...


"A mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao seu tamanho original." (Albert Einstein)

"Luis Fernando Veríssimo"


Estranho, mas aparece o nome do autor no início, no fim (parece que quer afirmar ser do cara mesmo!) e ainda uma citação de Einstein, que sei lá se é dele mesmo...

É, o post fico grandinho, mas isso tinha que ser comentado.

Ah! Estou ouvindo Last Nite, dos Strokes mas cantada pelos Los Hermanos.

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